Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus

Romanos 12:1, 2

Para o bem ou para o mal, a igreja lidera nossa cultura. Está é uma verdade incontestável. Muito antes do feminismo se tornar a força que é em nossa cultura geral, a feminização da igreja já era notícia antiga. Muito antes do subjetivismo se tornar um estilo de vida para a maioria dos brasileiros, os cristãos já estavam tateando nos armários da alma em busca de alguma religiosidade interior significativa. De maneira semelhante, nossa adoção voluntária da informalidade alegre na adoração nos levou a uma série de problemas fora da igreja.

Um de nossos problemas é que confundimos louvor e adoração. A definição de louvor parece óbvia, e felizmente é. Louvar significa adorar, engrandecer, exaltar e honrar ao Senhor. Mas, a maioria de nós pensa que adoração é sinônimo de louvor, e realmente não é. Quando Abraão levou Isaque ao monte para sacrificá-lo, ele disse aos seus servos que ele e seu filho Isaque iriam para o monte adorar e então voltariam. Ele não quis dizer que eles iriam usar suas guitarras e um pandeiro para fazer um pequeno culto.

Em vez disso, eles estavam indo para o monte a fim de fazer o que Deus disse para fazer. Logo, adoração significa serviço obediente, e quando nos reunimos formalmente para adorar ao Senhor, estamos reunidos a fim de nos tornar disponíveis para esse serviço. Quando Isaías viu a glória do Senhor encher o templo, sua resposta foi de adoração: “Eis-me aqui Senhor, envia-me a mim”. Temos a tendência de pensar que somos instruídos apenas a ir à igreja; contudo, vamos à igreja para ser equipados e instruídos pelos pela Palavra e pelos Sacramentos –  instruídos sobre o que fazer e como viver para a glória de Deus.

Quando a adoração verdadeira não ocorre, quando o adorador não se lembra do nome de Deus, o louvor naturalmente se deteriora e se torna pobre e fraco. E é exatamente isso que aconteceu conosco. Falamos sobre o que gostamos e não gostamos em relação aos cânticos de “adoração”, por exemplo, sem qualquer consideração pelo caráter, natureza e atributos de Deus. Nosso problema é que nossos debates sobre o louvor não foram precedidos de adoração real e sincera.

A adoração formal é o momento em que nos lembramos de nossos deveres constantes e permanentes à luz de quem é Deus. No Dia do Senhor, nossa adoração nos lembra que o resto da semana pertence a Ele também. Quando nos reunimos no culto familiar, não estamos deixando de lado o dia de Senhor, mas lembrando a toda a família que o dia inteiro é Dele.

Dito de outra forma, a adoração formal não cria uma distinção entre aquilo que é secular e sagrado. Compreendido da maneira protestante clássica, a adoração bíblica o oblitera. Devo oferecer um dia em sete para o Senhor porque todos os sete são Dele. Dou dez por cento dos meus dias ao Senhor porque cem por cento é Dele. Dou tempo durante o dia para reconhecê-lo com a família porque o dia é do Senhor.

O apóstolo Paulo nos diz que nosso corpo deve ser um sacrifício vivo, santo e agradável ao Senhor (Rm 12.1). O próximo versículo nos diz para não sermos conformados com o mundo, mas para sermos transformados pela Palavra de Deus (Rm 12.2). Compreender essa instrução é muito mais do que a chave para a santificação pessoal; é a chave para a transformação cultural. Esse sacrifício contínuo é, segundo Paulo, nossa adoração espiritual.

A razão pela qual a igreja cristã hoje não tem nenhuma potência cultural é porque nossa adoração formal é muito pobre e, portanto, não entendemos como nossa adoração espiritual deve ser aplicada no final do dia. Todas as nossas atividades culturais, grandes e pequenas, estão inextricavelmente ligadas ao nosso culto espiritual, que, por sua vez, está ligado ao nosso culto formal.

Infelizmente, os cristãos do século XXI não sabem levantar uma taça de vinho para a glória de Deus pela simples razão de que não sabem mais cantar de maneira racional e piedosa o Gloria Patri. Não sabemos como compor liturgias que honram a Deus porque se o sermão durar mais de quinze minutos, teremos um caso de relógios sendo consultados de maneira assustadora. Não sabemos o que é um estadista de verdade porque não sabemos o que é um chamado à adoração.

Em nossos dias, a maioria dos cristãos sai da igreja pensando que algo aconteceu lá (o tempo do culto, afinal, acabou!), Mas, eles ficariam muito surpresos ao descobrir que qualquer coisa que valesse a pena deveria ter sido feita. A.W. Tozer certa vez observou que, se avivamento significa mais do que temos agora, enfaticamente não precisamos de um avivamento. Porém, se avivamento significa retornar aos caminhos antigos, e recuperar o caminho de adoração que nossos pais conheciam, então certamente precisamos de um avivamento. Um reavivamento da adoração formal cheio de doutrina, alegria, glória e luz seria o primeiro passo para uma transformação notável da nossa nação.

Os cristãos frequentemente debatem se devem ou não se lançar na esfera política. Alguns dizem que sim, porque os cristãos devem se envolver em salvar nossa cultura. Alguns dizem que não deveríamos fazer isso, porque nossa cultura logo estará perpendicular à superfície e dirigida para a sujeira que vemos. Consequentemente, muitos pensam que devemos focar em nosso evangelismo de “tripulação dos botes salva-vidas”. Ninguém parece estar dizendo que a vida cultural e política de nossa nação pode e deve ser transformada pelo poder do Evangelho, e é por isso que devemos nos concentrar em aprender primeiramente como adorar ao Senhor, pois a partir daí entenderemos de uma vez por todas porque o impacto da nossa devoção pode mudar tudo ao nosso redor.

Nele, a quem toda a autoridade foi dada, no céu e na terra,

Rev. Alan Kleber