Um dos motivos por que temos dificuldade em lidar realisticamente com o problema do mal neste mundo é que de antemão produzimos caricaturas do mal em nossas mentes. Logo, quando alguém diz a palavra “tirania”, imaginamos exércitos marchando, desfiles de mísseis e tanques e toda a poderosa pompa militar. Porém, quando algo de fato ruim acontece conosco, e vemos com nossos próprios olhos, porque a realidade não corresponde ao que criamos em nossa imaginação, tratamos isso como uma anomalia, uma ocorrência única… algo para o qual não temos uma categoria. Mas, precisamos ter uma categoria para algo tão comum.

Eu nasci durante a Guerra Fria, logo, sou um filho desse tempo sombrio da civilização. Minha primeira visão de um país comunista real foi assistindo na televisão o grande desastre nuclear catastrófico em 1986, na Usina Nuclear de Chernobyl na Ucrânia Soviética. Lembro-me também do famoso Muro de Berlim, ele sempre estava presente nos noticiários. Construído em 1961 para separar Alemanha Oriental (comunista) da Alemanha Ocidental (capitalista). Sua demolição em 1991 marcou a queda da famosa “cortina de ferro” que isolava os países comunistas do mundo livre naquela época. Naquele tempo a lição mais importante era: Não lute contra a caricatura – lute contra a coisa real. Todas as imagens de países comunista na minha infância se assemelhavam a uma foto granulada em um jornal em preto e branco da destruída Chernobyl.

O texto

“Naquela mesma noite, lhe disse o SENHOR: Toma um boi que pertence a teu pai, a saber, o segundo boi de sete anos, e derriba o altar de Baal que é de teu pai, e corta o poste-ídolo que está junto ao altar…” (Juízes 6.25-32).

Resumo do texto

No início deste capítulo, um Anjo do SENHOR apareceu a Gideão e disse que ele seria o instrumento para salvar Israel da opressão dos midianitas. Depois de sua interação com aquele Anjo, naquela mesma noite o SENHOR falou com Gideão e disse-lhe para usar o boi de seu pai para derrubar o altar de Baal que era de seu pai, junto com o poste-ídolo ao lado dele (v. 25). Os poste-ídolos eram bosques utilizados na adoração dos falsos deuses. Eles faziam parte da maneira como os ídolos eram considerados sagrados. Eles eram plantados, guardados e cultivados. A adoração aos ídolos nunca ocorre em locais de distração.

Gideão deveria então pegar um segundo boi e sacrificá-lo sobre um altar oferecido a Deus, usando a lenha do poste-ídolo que cortou (v. 26). Gideão pegou dez de seus servos e fez tudo o que o SENHOR ordenou à noite, provavelmente naquela mesma noite (v. 27). Os homens da cidade levantaram-se pela manhã e descobriram que ocorreu uma reforma enquanto eles dormiam (v. 28). Eles fizeram perguntas e descobriram que Gideão era o culpado (v. 29). Os homens da cidade disseram a Joás (de quem era o altar) que trouxesse Gideão para ser executado pelo sacrilégio (v. 30). Isso mostra que a família de Gideão tinha influência significativa – seu altar de alguma forma “pertencia” à cidade. Joás então virou o jogo – Contendereis vós por Baal? Livrá-lo-eis vós? Qualquer que por ele contender, ainda esta manhã, será morto. Se é deus, que por si mesmo contenda; pois derribaram o seu altar (v. 31) Então, Joás chamou Gideão Jerubaal, que significa “deixe Baal contender”.

O padrão arquetípico

Este incidente registra um padrão que acontece nas Escrituras repetidas vezes. Quando as pessoas servem ao Deus verdadeiro, elas vivem sob Sua bênção. Quando elas se desviam para a adoração aos falsos deuses, são punidas por Ele. Temos incontáveis ​​exemplos históricos desse padrão nas Escrituras, mas também somos ensinados que essa verdade é proverbialmente verdadeira. “Quando se multiplicam os justos, o povo se alegra, quando, porém, domina o perverso, o povo suspira” (Provérbios 29.2). Isso significa que o padrão continua sendo um padrão até o presente. Ser governado por perversos nunca é uma festa.

O problema da máquina de venda automática

A sabedoria deste mundo consiste principalmente em aprender a ler as questões de causa e efeito. Porém, só podemos aprender a fazer isso da maneira certa lendo o que as Escrituras nos ensinam, e então lendo isso em nossa vida, nossa história familiar, nossa política, através da luz que a lâmpada para leitura das Escrituras nos fornece (Sl 119.105).

Isso significa que a causalidade (isto é, ligação entre causa e efeito) não deve ser interpretada como uma máquina de venda automática simplista – coloque o dinheiro e tire o seu produto. Deus frequentemente testa a sabedoria da nossa fé fazendo com que Sua intervenção causal atue de maneira muito diferente de uma máquina de venda automática. No entanto, ainda é reconhecidamente causal. Qual é a relação causal, por exemplo, para incontáveis ​​horas praticando piano quando criança e a vitória em uma competição de música vinte anos depois? Existe uma relação causal? É óbvio que sim, mas não é como colocar na caçapa a bola 8 em um jogo de sinuca.

Resumindo, nossas escolhas não são causalidade simplista, por um lado, ou aleatoriedade, por outro. Agora, dito isso, a idolatria causa tirania.

Voltemos a falar sobre tirania

Um casamento abusivo não deve ser definido como aquele em que o marido bate na esposa de forma contínua ou constante. Em vez disso, um relacionamento abusivo é aquele em que o cônjuge abusivo se reserva o direito de se comportar dessa forma, sempre que lhe apetecer. Esse tipo de tirania conjugal não precisa ser algo 24 horas por dia, sete dias por semana. Frequentemente, as piores situações são as mais erráticas, e longos períodos de tempo podem se passar entre as explosões. Mas o relacionamento é uma bagunça o tempo todo, esteja ou não algo realmente ruim acontecendo neste minuto. O que o torna uma bagunça é a natureza arbitrária e caprichosa disso.

Jesus e os tiranos

A confissão cristã fundamental é esta: Jesus é o Senhor. Esta confissão exclui, necessariamente, o domínio equivalente de qualquer coisa ou qualquer outra pessoa. Se Jesus é o Senhor, então César não é. Se Jesus é o Senhor, então Mamom não é. Se Jesus é o Senhor, a pornografia não é. Se Jesus é o Senhor, então os ataques do inimigo não são.

Quando não há Deus acima do Estado, o Estado se torna deus – a maior autoridade na vida daqueles que são governados. Quando o Deus verdadeiro é reconhecido e servido, a lei se torna estável. Isso ocorre porque nos tornamos parecido com aquele que adoramos. Deus é imutável, e adorá-lo nos produz em nós constância.

O verdadeiro cristão serve aquele que julgará todos os reis, presidentes e imperadores no fim de todas as coisas, e assim o verdadeiro cristão sabe que sempre há um tribunal de apelação. Podemos sempre dizer (devemos sempre dizer) que é necessário obedecermos a Deus e não aos homens (Atos 5.29).

Conclusão

Por fim, Jesus estabeleceu Sua autoridade sangrando. Os tiranos estabelecem sua autoridade pelo derramamento de sangue. Jesus alimentou as multidões à beira-mar e fez isso logo após o episódio em que Herodes mandou decapitar João Batista e sua cabeça foi trazida em uma travessa de prata (Marcos 6.32). O Senhor Jesus alimenta os santos de Deus, enquanto os governantes ímpios se alimentam dos santos de Deus.

E é por isso que nossa atividade política fundamental é dar nossas vidas uns pelos outros. Isso é imitação de Cristo e verdadeiramente revela um poder inimaginável perante o mundo.

Nele, Rei dos reis e Governador dos governadores,

Pr. Alan Kleber