Em Memória de Leonardo Souza Santana

(*16.02.1948 – †14.11.2023)

“Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o SENHOR a sua bênção e a vida para sempre” (Salmo 133).

“Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” (Amós 3:3).

A razão pela qual quero falar sobre a questão da unidade cristã hoje é a forma como Leonardo Souza Santana incorporou plenamente essa graça e virtude específicas. Nos quase quarenta e dois anos em que foi membro comungante da nossa Congregação, destes, vinte e sete que eu o conheço, não consigo me lembrar de nenhuma ocasião em que tenhamos colidido, entrado em conflito ou brigado. Ele era tão leal, firme e equilibrado quanto é possível para um homem ser. Junto com sua esposa Nininha, com quem viveu casado por 51 anos, Leonardo foi modelo de graça e caridade cristã no meio do povo de Deus.

Agora que ele está desfrutando da perfeita unidade da Igreja Triunfante, espero que nós, que ainda lutamos como membros da Igreja Militante, possamos extrair algum encorajamento do seu exemplo. A unidade perfeita da qual ele participa agora é uma unidade que ele buscou e praticou nesta vida, e fez isso por muitos anos.

Sobre esta questão da Igreja Triunfante e da Igreja Militante, Herman Bavinck disse uma vez o seguinte:

“A Igreja não é, portanto, uma ideia ou um ideal, mas uma realidade que se torna algo e se tornará algo porque já é algo. É assim que a igreja continua em constante mudança; estava senda reunida desde o princípio do mundo, e será reunida até o fim do mundo. Diariamente partem dela alguns que lutaram a luta, mantiveram a fé, conquistaram a coroa da justiça e que constituem a igreja triunfante, a igreja dos primogênitos e dos espíritos dos justos aperfeiçoados (Hb. 12:23). E diariamente novos membros são acrescentados à igreja na terra, à igreja militante aqui embaixo; eles nascem na própria igreja ou são trazidos pelo trabalho missionário. Essas duas partes da igreja pertencem uma à outra. Elas são a vanguarda e a retaguarda do grande exército de Cristo”(Bavinck, The Wonderful Works of God, pp. 502-503).

Aqueles que dormem no Senhor, como Leonardo, fazem parte desta guarda avançada. Eles não estão sendo tirados de nós, mas estão acontecendo diante de nós. A nossa unidade com eles, cultivada nesta vida, não é de forma alguma diminuída pela sua promoção. Mas, como isso poderia ser?

Acreditamos na comunhão dos santos, e esta unidade com a nuvem de testemunhas que terminaram a sua parte nesta grande corrida de revezamento é uma unidade que nos deve encorajar muito. Mas, não deveria nos encorajar a manter a nossa unidade com todos os santos aperfeiçoados no Céu, enquanto ignoramos a nossa desunião com os santos imperfeitos aqui embaixo.

Se estivermos pecaminosamente em desacordo com nossos irmãos cristãos aqui, esse problema será superado pela morte. Esta é a bondade e a graça de Deus. Contudo, se estivermos desfrutando da bênção que Davi chamou de realidade “boa e agradável” de vivermos juntos em unidade, aqui nesta vida, então a morte apenas amplificará aquilo de que já participamos.

O corpo de Cristo não é um conjunto díspar de indivíduos autônomos. Somos, de acordo com Paulo, membros uns dos outros, assim como a mão, o olho, o ouvido, e o fígado, são todos membros uns dos outros. Essa união orgânica não é interrompida pela morte – não temos dois corpos de Cristo, um no Céu e outro aqui na terra. Pelo contrário, existe um corpo místico, e Cristo é a Cabeça desse corpo místico.

É o propósito bom e soberano de Deus crescer e desenvolver essa unidade lenta, metódica e inexoravelmente, ao longo do tempo:

“E não retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus” (Colossenses 2:19).

Todo funeral cristão é, portanto, um marco miliário. Na Roma Antiga, os miliários eram marcos, geralmente feitos de pedra e na forma de colunas monolíticas, com uma inscrição gravada e destinados a marcar distâncias no percurso das principais estradas romanas do império. Portanto, em todo funeral cristão, estamos todos nos aproximando daquele dia em que chegaremos àquele homem perfeito de que Paulo fala em sua carta aos Efésios:

“Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4:13).

Esta é uma unidade ainda não totalmente alcançada, mas todos os dias milhares mais se derramam na porção aperfeiçoada do corpo. Preciosa aos olhos do Senhor é a morte dos Seus santos (Sl 116:15). É claro que nos regozijamos com o nascimento de novos pequeninos, mas fazemos isso sabendo que todos eles, como nós, viverão para sempre. Isso significa que depois desta vida, eles, como nós, cruzarão o Jordão e entrarão no vale final de Escol. Com os olhos postos nesse prémio, deveríamos ajustar a forma como vivemos agora.

Se compreendermos esta unidade futura, todos devemos nos esforçar juntos para fazer o que Paulo exorta no início do mesmo capítulo, em Efésios 4. Existe uma unidade que todos os verdadeiros cristãos já possuem, e somos ordenados a não perturbá-la. Devemos mantê-la ou preservá-la:

“Esforçando-nos por manter a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Efésios 4:3).

As coisas que constituiriam tal perturbação seriam vários pecados – inveja, queixa, murmuração, rivalidade, amargura, e assim por diante. Não precisamos esperar pela ressurreição dos mortos para nos afastarmos dessas coisas. Lide com essas interrupções de maneira direta. Confesse seus pecados. Mantenha contas curtas. Nunca deixe a desordem se acumular.

Esta é uma pastoral sobre um memorial cristão. Portanto, não nos lembremos apenas da vida de Leonardo de forma genérica. Nos lembremos do seu exemplo de união e lealdade constantes. Em Jope, quando aquela boa mulher, Tabita morreu, somos informados de que ela estava “cheia de boas obras” (Atos 9:36). Olhem para a vida, certamente, mas também, olhem para o exemplo.

Nele, nossa ressurreição e vida,

Rev. Alan Kleber Rocha