Em Memória de Herta Araújo Oliveira Rodrigues

(*01.03.1939 – †22.11.2023)

Herta e sua filha especial, Ana Paula

A Bíblia diz que somos frágeis filhos do pó, tão fracos como frágeis. Isto contém dois elementos de verdade bíblica que quero enfatizar na pastoral desta semana. A primeira delas, é que somos realmente frágeis filhos do pó. Mas, a segunda verdade também é importante: o elemento da glória. Quando a Palavra de Deus diz que somos tão fracos quanto frágeis, o significado dessa frase poderia ser perdido se não soubéssemos que “frágil” serve para descrever um tipo de porcelana delicada que enviamos pela transportadora. Isto inclui o elemento de glória, mas uma glória transitória e passageira. Como assim? Bem, as coisas frágeis são obviamente frágeis, mas elas podem ser extraordinariamente belas e gloriosas. Coisas belas não precisam necessariamente ser resistentes.

A Bíblia certamente descreve a nossa condição neste mundo como frágil. Somos pó, diz o salmista. Deus tem consideração pela nossa estrutura; Ele sabe que somos pó (Salmo 103:14). Para contrariar a nossa jactância e orgulho, o apóstolo Tiago diz que as nossas vidas aqui são uma névoa (Tiago 4:14). E o salmista enfatiza esse ponto mais uma vez quando diz o seguinte:

“Deste aos meus dias o comprimento de alguns palmos; à tua presença, o prazo da minha vida é nada. Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade” (Salmo 39:5).

“Quando castigas o homem com repreensões, por causa da iniqüidade, destróis nele, como traça, o que tem de precioso. Com efeito, todo homem é pura vaidade” (Salmo 39:11).

 “Somente vaidade são os homens plebeus; falsidade, os de fina estirpe; pesados em balança, eles juntos são mais leves que a vaidade” (Salmo 62:9).

Para alguns, esses podem ser considerados pensamentos melancólicos e por isso, preferem não pensar neles. Mas afinal, não deveríamos reservar um momento como este para refletir sobre a nossa própria mortalidade quando refletimos sobre a morte de alguém? Bem, certamente deveríamos, mas temos que considerar o ensino bíblico no contexto bíblico completo.

Anteriormente mencionei o elemento da glória. Primeiro, como cristãos sabemos que as Escrituras nos prometem uma esperança segura e certa da ressurreição. A glória está chegando, e a Bíblia nos diz isso de maneira maravilhosa e explícita:

“Porque tenho para mim que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória que será revelada em nós” (Romanos 8:18).

Há uma glória chegando, e todos os sofrimentos pelos quais já passamos, reunidos em uma pilha, nem sequer moveriam a balança se o peso dessa glória estivesse do outro lado. Ansiamos por essa glória e ansiamos por essa ressurreição.

Para esse fim, Deus nos deu sugestões de glória. Vemos demonstrações breves, passageiras e evanescentes disso… e então ela se vai. Neste mundo, glória é glória, mas porque é frágil, ela desaparece. A glória está chegando, certamente, mas Deus nos deu vestígios dessa glória em nossa vida aqui e agora.

Pense por um momento no privilégio de ver um pôr do sol lindo e exagerado. Pense no laranja mais impressionante que você poderia imaginar, com um arco-íris lançando desafios do outro lado do céu, como se estivessem competindo entre si. Neste caso, o pôr do sol venceu. No entanto, essa exibição durou apenas alguns minutos e depois desapareceu. Completamente desapareceu. Estava tão desaparecido quanto o pôr do sol glorioso de um século atrás. A única coisa que ele deixou foi a certeza de que em algum lugar deveria ser assim o tempo todo.

Nós o vemos, mas não realmente. Se um pôr do sol como esse acontecesse a cada século ou mais, e acontecesse dentro de um cronograma, quando o tempo chegasse, haveria milhares de pessoas reunidas para vê-lo. Sinfonias seriam escritas sobre isso. Poemas seriam compostos. Se isso acontecesse a cada século, poderíamos realmente ver isso. Mas, quer vejamos ou não, ainda há algo para ser visto.

Agora, pense no homem. A Bíblia diz que o homem é uma grande glória. Ele é a imagem e a glória de Deus. No entanto, quando chega o dia da sua partida – toda a carne é erva, e a erva seca e a flor murcha. Mas enquanto estiver aqui, o que temos? Temos a imagem e a glória de Deus, desaparecendo como o melhor pôr do sol que você um dia já viu.

Neste Dia do Senhor, nosso santuário está cheio de pessoas cujas vidas serão definidas. Este mundo também está cheio delas; temos bilhões delas espalhadas pelo mundo. Nós simplesmente passamos por elas, sem realmente perceber o que está acontecendo. O que está acontecendo é uma promessa. A glória que desaparece, seguida por uma noite negra, é a promessa de uma glória vindoura, seguida por um dia glorioso. Momentos de glória antes do céu escurecer são uma declaração breve e momentânea de como será o amanhecer do dia eterno.

Portanto, o que cada pôr do sol nos ensina é que Cristo é o nascer final do sol e que Ele ressuscitará sobre a criação, assim como ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, e brilhará sobre cada homem. “Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará” (Efésios 5:14).

Herta Oliveira era uma mulher cristã que confiou em Jesus para sua salvação. O seu sol já se pôs, mas o seu amanhecer e o nosso estão cada vez mais próximos. A eterna aurora está outro dia mais próxima do que estava antes. Isso vai acontecer. Quantos milhões de vezes Deus prometeu isso? Todas as noites nos deitamos para dormir, para praticar nossa morte, e todas as manhãs saímos da cama, praticando hesitantemente nossas habilidades de ressurreição.

Herta nos precedeu e, assim como acontecerá conosco, teve todas as suas fragilidades engolidas pela vida. Sempre que alguém que acredita em Jesus se aproxima da morte, esta mancha de nuvem em particular, apenas aumenta a admiração. É a verdadeira fragilidade. O sol está se pondo. É a verdadeira glória, e nada pode ser dito que contrarie a promessa do romper da aurora. Isto é verdade para todos nós.

Já nos disseram muitas vezes que esta glória não durará. E esta glória não durará porque, durante e através da sua passagem, o bom Senhor está nos prometendo uma glória que não pode desaparecer. Somos cristãos e por isso acreditamos na ressurreição dos mortos. Acreditamos que o laranja se transforma em preto, e que o preto se transforma em cinza, e que o cinza irrompe em um dia azul eterno.

“Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 22:5).

Nele, nossa ressurreição e vida,

Rev. Alan Kleber Rocha