Uma Teologia para os Presentes de Natal
Estamos mais uma vez vivenciando este maravilhoso tempo do Advento, e nada melhor do que refletir um pouco sobre a teologia dos presentes de Natal. Todos os anos muitos de nós gastamos boa parte do nosso tempo neste aspecto das celebrações natalinas, e por essa razão, deveríamos nos perguntar: Como cristãos que buscam submeter todos os aspectos de nossas vidas à Palavra de Deus, de que maneira devemos pensar sobre os presentes de Natal? Como devemos fazer as nossas compras? Para encontrar a resposta certa, precisaremos considerar qual é a base teológica da nossa oferta.
O Texto
10 Ora, aquele que dá semente ao que semeia e pão para alimento também suprirá e aumentará a vossa sementeira e multiplicará os frutos da vossa justiça, 11 enriquecendo-vos, em tudo, para toda generosidade, a qual faz que, por nosso intermédio, sejam tributadas graças a Deus. 12 Porque o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus, 13 visto como, na prova desta ministração, glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo e pela liberalidade com que contribuís para eles e para todos, 14 enquanto oram eles a vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em vós. 15 Graças a Deus pelo seu dom inefável!
(2 Coríntios 9.10-15)
Resumo do Texto
Nesta parte de sua carta, o apóstolo Paulo está pronunciando uma bênção para os coríntios. Ele pede que o Deus que fornece a semente para os fazendeiros abençoe o ministério dos coríntios (v. 10). Ele também pede que esse mesmo Deus lhes dê comida e multiplique o impacto de sua generosidade (v. 10).
Paulo deseja que isso resulte em abundância para eles, de modo que possam ser equipados para dar ainda mais, com o resultado de muito mais ações de graças (v. 11). O motivo é que esse tipo de doação tem dois benefícios: 1. atende à necessidade dos santos, que é um bem; e, 2. resulta em ações de graças a Deus (v. 12), que é um outro benefício.
O apóstolo lembra que à medida que os destinatários aprovam e se regozijam com o que eles (e outros) recebem, ficam contentes por esta evidência tangível da obediência dos coríntios ao evangelho de Cristo (v. 13). A gratidão do destinatário é um presente de retribuição ao doador. Em troca do presente, os destinatários oram e desejam ver na vida dos doadores a superabundante graça de Deus repousando sobre eles (v. 14).
Por fim, o apóstolo Paulo ancora sua bênção referindo-se ao fundamento de toda generosidade, que é a generosidade de Deus para conosco, no dom de Seu Filho – o dom inefável (v. 15). Todos os nossos dons, de qualquer tipo, devem ser fundamentados aqui. Toda generosidade encontra em Cristo Jesus sua raiz e origem.
Diferentes Tipos de Doações
Pela graça de Deus, você é dono ou possui o que tem. As Escrituras, portanto, descrevem para nós diferentes tipos de circunstâncias em que doamos alguns de nossos bens. E essa doação incluiria qualquer coisa de valor monetário saindo de nós e sem nenhum retorno imediato como troca. Em outras palavras, estamos falando de qualquer despesa que não seja o ato de “comprar” algo para nós.
Para um melhor entendimento dos fundamentos dessa teologia dos presentes, podemos dividir isso em três categorias – dízimos, ofertas e celebrações. Os presentes de Natal obviamente se enquadrariam nesta terceira categoria.
Dízimos
O dízimo é uma dádiva que não é arbitrária. Em outras palavras, o dízimo é o tributo de Deus, o seu imposto atribuído a nós. Ao contrário do que muitos cristãos presumem, o dízimo não é uma “coisa mosaica”. Abraão deu o dízimo a Melquisedeque antes que houvesse um código Mosaico (Gn 14.2). Moisés certamente o incluiu em sua lei, mas da mesma forma outras práticas antigas foram incluídas, práticas como a circuncisão ou o sacrifício de animais (Dt 14.28).
Do mesmo modo, no Novo Testamento, Paulo nos diz que aqueles no ministério cristão devem ser amparados da mesma forma que os sacerdotes levíticos eram amparados, ou seja, por meio do dízimo (1 Coríntios 9.13-14). O apóstolo descreve como os sacerdotes foram apoiados no Antigo Testamento por meio do dízimo, e então diz que, da mesma forma, o ministério cristão deve ser apoiado na Nova Aliança.
O princípio também é declarado de maneira geral em Gálatas 6.6-8, sendo descrito como parte da estrutura de como as coisas simplesmente devem ser. De Deus não se zomba – um homem colhe o que semeia, e parte dessa semeadura é compartilhar com aquele que ensina a Palavra de Deus para o povo pactual.
Portanto, se você olhar atentamente para as Escrituras, verá que os destinatários designados legítimos do dízimo são os ministros da Palavra (1 Co 9.14), os pobres (Dt 14.29) e os mercadores que nos fornecem os bens para as nossas celebrações perante o Senhor (Dt 14.22-29). Outro importante ensino sobre o assunto é que a Escritura indica as categorias legais e o dizimista determina o destinatário preciso.
Ofertas
As Escrituras frequentemente descrevem a entrega do dízimo em termos da semente que é lançada na terra, e a semente que vai para a terra é o meio ordenado de se obter uma boa safra ou colheita (Ml 3.10). Dizer, portanto, que o dízimo é um dom obrigatório é simplesmente dizer que Deus exige que ponhamos uma certa quantidade de sementes de milho no solo. Contudo, o Senhor cuida de nós e esse é o maravilhoso ensino sobre o dízimo. Do contrário, teríamos a tendência de comer nosso grão de milho e não de lançá-lo sobre a terra fértil.
E uma vez que aprendemos que o dinheiro é a semente de milho em sua própria natureza, os sábios entre nós querem descobrir como dar mais de dez por cento, com o a ganância de obter algum lucro. Porém, não damos para receber aumento, e ponto final. Damos para receber com o objetivo de poder doar um pouco mais. “A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado” (Provérbios 11.25).
Então, com base nesse fundamento teológico o apóstolo Paulo encoraja os coríntios a aplicarem a lógica do dízimo ao seu pensamento sobre suas ofertas voluntárias:
“6 E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará. 7 Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.”
(2 Coríntios 9.6-7)
Não é possível sermos doadores alegres se pensarmos que estamos jogando sementes perfeitamente boas no vazio. Porém, uma vez que descobrimos que o solo é fértil isso é mais do que possível. Um doador alegre é, na verdade, um fazendeiro ousado e cheio de fé.
Celebrações
E assim, passamos ao costume de celebrar por meio de presentes. Já vimos alguma indicação disso em Deuteronômio 14, onde Deus requer o que pode ser chamado de dízimo festivo. Mas, parece que Deus incutiu profundamente na humanidade o impulso de dar presentes durante a celebração. Este é mesmo o caso com os homens ímpios descritos em Apocalipse 1110, que celebraram com a troca de presentes após a morte das duas testemunhas. Entretanto, o impulso também é encontrado entre os justos. O que aconteceu quando os judeus foram libertos de uma grande ameaça no livro de Ester, na fundação da Festa do Purim?
“… como os dias em que os judeus tiveram sossego dos seus inimigos, e o mês que se lhes mudou de tristeza em alegria, e de luto em dia de festa; para que os fizessem dias de banquetes e de alegria, e de mandarem porções dos banquetes uns aos outros, e dádivas [presentes] aos pobres.”
(Ester 9.22)
O Presente Inefável
E agora chegamos à base de todas as nossas compras de Natal. Como toda generosidade cristã, ela busca imitar a generosidade de Deus, fundamentando nossa doação no fato de que Deus nos deu de forma tão generosa. O adágio é “… de graça recebestes, de graça dai” (Mateus 10.8). O Senhor compartilha esse presente com nossos dízimos e ofertas.
E, ao mesmo tempo, todos os nossos presentes de Natal são também uma celebração daquele grande presente que nos foi dado. Celebramos a Encarnação – o presente pré-requisito que permitiu a Deus nos dar um presente ainda maior da crucificação e ressurreição. Jesus nasceu para morrer, e tudo isso – nascimento, vida, morte, ressurreição e ascensão – foi dado para nós, homens, e para nossa salvação.
Consideramos que existem três tipos básicos de presentes ensinados nas Escrituras: o dom obrigatório do dízimo, onde Deus está nos ensinando como Ele governa o mundo, o dom da liberdade da oferta, onde o discípulo demonstra que está começando a entender a lição, e o dom comemorativo da celebração que Deus colocou profundamente em nossa natureza.
Desde que nos lembremos do motivo pelo qual estamos fazendo isso, é inteiramente adequado que demos presentes de Natal uns aos outros. Seria estranho e esquisito se não o fizéssemos, pois a base de nossa doação é o dom final de Cristo, o dom que Deus nos deu para restaurar o mundo que havíamos destruído. Aqui temos uma teologia para os presentes que damos uns aos outros nesse tempo de celebração da nossa salvação.
Feliz Natal!
Rev. Alan Kleber Rocha