Um Salmo para um Novo Ano

A verdadeira adoração vem de corações verdadeiros, e corações verdadeiros transbordam de alegria. Essa alegria pode ser solene, como acontece em um casamento (solempnis), ou pode ser jubilosa, como acontece depois de uma batalha vitoriosa. Mas, ele nunca deve ser é taciturna, ranzinza ou mal-humorada. Quem precisa desse tipo de adoração? Quem precisa desse tipo de serviço? Jamais o Senhor.

O Salmo

Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras. Servi ao SENHOR com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico. Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio. Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome. Porque o SENHOR é bom, a sua misericórdia dura para sempre, e, de geração em geração, a sua fidelidade (Salmo 100).

Resumo do Salmo

Este é um salmo de ação de graças, louvor e alegria. Todas as tribos, todas as terras, são convidadas a participar da tarefa de fazer barulho alegre (v. 1). O verdadeiro serviço prestado a Deus é, necessariamente, um serviço alegre prestado a Deus. Devemos chegar à Sua presença cantando, o que é um indicador de que devemos fazê-lo com alegria (v. 2). Começamos este serviço de adoração com conhecimento – “sabei que o SENHOR é Deus” (v. 3). Foi ele quem nos fez, e não nós mesmos (v. 3). Somos ovelhas do Seu pasto (v. 3). Ao chegarmos à Sua presença, devemos fazê-lo com ações de graças e louvor (v. 4). Devemos ser gratos a Ele e bendizer Seu nome (v. 4). O Senhor é verdadeiramente bom. Sua misericórdia é eterna. A sua verdade dura de geração em geração (v. 5).

Adoração com alegria

A palavra traduzida como “servir” no v. 1 tem o sentido de “serviço”, que é o significado da adoração. Adoração é serviço; adoração é fazer o que Deus exige de nós. Estamos acostumados com aqueles que tratam louvor e adoração como sinônimos, mas não são. O louvor é um subconjunto da adoração, mas a adoração não é um subconjunto do louvor. Adoração é quando nos colocamos à disposição de Deus para fazer tudo o que Ele exige de nós. Adoração é serviço. Adoração é comparecer diante do Senhor com um estado de espírito obediente. “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12:1). Nossa adoração é semelhante quando Isaías teve um vislumbre do Senhor, elevado e exaltado no Templo, e sua resposta foi: “Aqui estou, Senhor, envia-me”, esta é a nossa adoração.

Viemos adorar o Senhor porque Ele nos manda, mas também devemos adorar o Senhor da maneira que Ele nos manda. Não basta simplesmente aparecer. E aqui Ele nos convoca a chegar diante de Sua presença com ações de graças, e com louvor, e com cânticos, e com toda alegria.

Pois Ele nos fez (de novo)

Devemos fazer isso porque sabemos que o Senhor Deus foi quem nos criou. Seria natural (e não errado) interpretar isso como alegria pelo simples fato da nossa criação. Fomos criados e não fomos moldados. Nós não nos criamos nem nos fizemos. Claro que não. Mas, João Calvino interpreta interessantemente esta passagem como falando sobre a nossa recriação na regeneração de Deus sobre nós. Como o salmista segue imediatamente com a observação de que somos as “ovelhas do seu pasto”, Calvino assume que ele está falando sobre o dom do novo nascimento, Deus nos tornando Suas ovelhas num mundo onde há muitos cabritos.

Ação de Graças Baseada no Conhecimento

Porque sabemos que o Senhor é Deus, porque sabemos que foi Ele quem nos fez (ou nos refez), portanto o que se segue? O que se segue é um grito alegre, canto, alegria, ação de graças, louvor e uma bênção do Seu nome. Este conhecimento não é um conhecimento que simplesmente usa o nome Deus como um espaço reservado, mas sim compreende a Divindade de Deus.

Não somos estóicos ou fatalistas. Sabemos que Deus é última e absolutamente Deus, e que Ele está no controle total de todos os eventos da história. Isso inclui obviamente, os eventos pelos quais Lhe agradecemos natural e espontaneamente, mas também inclui aquelas providências difíceis que temos dificuldade em processar.

Quando entramos em Suas cortes celestiais com alegria, todos estamos carregando alguma coisa. Cada um de nós traz algo aqui para apresentar ao Senhor. Se isso é algo abundante, uma boa colheita, uma grande promoção, é um prazer cumprir nosso dever nisso. Mas, muitos de nós estão lidando (ou sofrendo) com o que só pode ser entendido como circunstâncias difíceis. Pode ser um diagnóstico difícil, ou um ente querido perdido, ou pressões financeiras, ou decisões últimas no final da vida, ou deveres difíceis, ou uma pessoa impossível em sua vida, ou um chefe difícil, ou qualquer outra possibilidade. Quando entramos nos átrios do SENHOR, é isso que devemos levar conosco para apresentar a Ele, e devemos fazê-lo com alegria.

“Alegrai-vos sempre. Orar sem cessar. Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Tessalonicenses 5:16-18).

“Dando sempre graças por tudo a Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Efésios 5:20).

Alegria, não manipulação

Alegria em todas as coisas, e para todas as coisas, não é manipulação, nem tagarelice, nem confusão. A alegria no Senhor cresce em uma verdadeira atmosfera de maturidade. Deixe-me considerar uma tensão comum em nossa vida diária (as finanças) para ilustrar o que quero dizer.

Digamos que você sempre tenha pouco dinheiro e muitos dias restantes no mês. A pressão financeira é uma realidade constante em sua vida. A tentação (quando você não está inclinado na direção da alegria) é querer, desejar e orar por dinheiro extra para que a pressão possa ser aliviada ou eliminada. Pouco dinheiro e duas semanas restantes no mês é demais para você e então, você ora para que um milagre aconteça e A quarta série é demais para você, então você ora para que aconteça e tenha mais dinheiro do os dias e semanas de cada mês pela frente.

Porém, mais dinheiro é peso adicional, mais responsabilidade. Nosso problema é que ignoramos essa parte quando oramos por mais. Na verdade, pedimos mais responsabilidade para que possamos ser menos responsáveis – o que é um absurdo. Não funciona assim. A alegria faz você crescer. Os cristãos maduros são os cristãos felizes. E fazer beicinho nunca é uma aparência madura.

Hesed nunca acaba, dura para sempre

Somos cristãos; somos seguidores de Cristo. E Cristo é Senhor, e o Senhor é bom. Pois Sua misericórdia (hesed, benignidade) é eterna. Eterno significa durar para sempre. Esta é a Sua verdade, e a Sua verdade também nunca se esgota. Perdura por todas as gerações. Isso era verdade quando estas palavras foram escritas e agora, milhares de anos depois, não estamos nunca perto do fim de “todas as gerações”. Jesus Cristo, o Senhor é o mesmo ontem, hoje e para sempre.

Feliz e abençoado ano novo!

Rev. Alan Kleber Rocha