O crente autêntico é convocado para ser um soldado e deve comportar-se como tal, desde o dia de sua conversão até o dia de sua morte. Ele não foi chamado para viver uma vida caracterizada por tranquilidade religiosa ou pela indolência e segurança pessoal. O crente jamais deveria imaginar, por um momento sequer, se ele pode dormir ou cochilar ao longo de sua caminhada para a pátria celeste, como alguém que viaja em uma carruagem de ouro. Se ele forma o seu padrão de cristianismo tomando por base os filhos deste mundo, talvez se contente com tais noções. Entretanto, não encontrará apoio para tais ideias nas páginas da Palavra de Deus. Se a Bíblia é sua regra de fé e prática, ele descobrirá que a sua vereda é claramente traçada quanto a essa questão. A ele compete “combater”.

E contra quem o soldado cristão deve combater?

A principal luta do crente é contra o mundo, a carne e o diabo. Esses são os eternos adversários do cristão. Esses são os três arqui-inimigos contra os quais devemos declarar guerra. A menos que o crente obtenha a vitória sobre esses três inimigos, todas as demais vitórias que ele vier a obter serão inúteis e vãs. Se ele tivesse natureza semelhante a de um anjo e não fosse uma criatura caída, então, esse conflito não seria tão essencial. Entretanto, em face de um coração corrupto, de um diabo muito ativo e de um mundo que ilude, o crente precisa “combater” ou estará perdido.

O crente precisa combater contra a carne. Mesmo depois da conversão ele traz consigo uma natureza inclinada para o mal e um coração fraco, tão instável quanto a água. Esse coração jamais estará isento de imperfeições neste mundo, sendo uma miserável ilusão esperar por isto. A fim de impedir que o nosso coração se desvie, o Senhor Jesus ordenou “vigiai e orai”. O espírito pode estar pronto, mas a carne é fraca. Há necessidade de um combate diário e de uma luta permanente em oração. “Mas esmurro o meu corpo e reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.” “Desventurado homem que sou”! Quem me livrará do corpo dessa morte?” “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.” “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena”. (mc 14.38; 1Co 9.27; Rm 7.23,24; Gl 5.24 e Cl 3.5)

O crente precisa combater contra o mundo. A sutil influência desse poderoso inimigo deve sofrer resistência diária de nossa parte, pois, sem uma batalha diária, ele jamais poderá ser vencido. O amor às boas coisas do mundo, o temor do escárnio ou do senso de culpa imposto pelo mundo, o desejo secreto de ser aceito pelo mundo, o desejo secreto de agir como agem as pessoas deste mundo e de não querer ser considerado um extremista – todos esses adversários espirituais que continuamente assediam o crente durante toda a sua jornada para o céu e que precisam ser vencidos. “Não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” “Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele.” “O mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo.” “Porque o que é nascido de Deus vence o mundo.” “Não vos conformeis com este século.” (Tg 4.4; 1Jo 2.15; 1Jo 5.4;.” (Tg 4.4; 1Jo 2.15; 1Jo 5.4; Rm 12.2).

O crente precisa combater o diabo. Esse antigo adversário da humanidade não está morto. Desde a queda de Adão e Eva, ele tem andado a “rodear a terra a passear por ela”, esforçando-se por obter a sua grande finalidade – a ruína da alma humana. Nunca dormindo e nem cochilando, ele está sempre andando “em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devora”. Sendo ele um inimigo invisível, está sempre perto de nós, cercando o nosso caminho e o nosso leito, espionando todos os nossos caminhos. Sendo um “homicida” e um “mentiroso” desde o princípio, ele labora noite e dia para lançar-nos no inferno. Algumas vezes, procurando conduzir-nos a superstição ou sugerindo-nos algum ato de infidelidade e, outras vezes, mediante uma tática ou outra, ele está sempre realizando uma campanha destruidora contra a nossa alma. “Eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo!” Esse poderosíssimo adversário deve ser combatido diariamente, se quisermos ser salvos. Entretanto, “esse tipo de demônio” não cede diante da vigília e da oração apenas, mas também por meio do combate, quando o crente se reveste de toda armadura de Deus. O forte homem armado nunca será afastado de nosso coração, sem uma batalha diária. (Jó 1.7; 1Pe 5.8; Jo 8.44; Lc 22.31; Ef 6.11).

Lembremo-nos da máxima do mais sábio general que a Inglaterra já teve: “Em tempo de guerra o pior equívoco consiste em subestimar o inimigo e tentear fazer uma guerra pequena”. Esse combate cristão não é uma questão insignificante. Dê-me sua atenção e considere o que tenha a dizer. O que dizem as Escrituras? “Combate o bom combate. Toma posse da vida eterna, para qual também foste chamado.” Participa dos meus sofrimentos, como bom soldado de Cristo Jesus.” “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis”.

Re. José Nilton

Fonte:, J. C. RYLE, Santidade – Sem A Qual Ninguém Verá O Senhor. 2ª ed. (São Paulo, Editora Fiel). p. 88,89 e 90